
É, minha princesinha se foi. Não suportou a dor que carregou nesses últimos meses. A princesinha a que me refiro era minha cadela, que morava com minha avó nos últimos dois anos. A dor maior foi dela, mas agora é minha também. Por saber que em suas últimas horinhas de vida, não pude estar com ela, tentando amenizar sua dor, seu sofrimento, mesmo que simbolicamente.
Uma cachorrinha, que apenas com seu nome já divertia as pessoas: Biba. Mas não era obrigação diverti-las. Nem com seu nome, nem com seu jeitinho vira-lata-encantador de ser. Tantas histórias... Era só uma bolinha de pêlo quando chegou à nossa residência, ainda em Interlagos. Naquele pequeno sobrado em que moravamos, aprontou todas. Puxava roupa do varal e trucidava-as, pegava os meus brinquedos e os da minha irmãzinha e transformva tudo em plástico retorcido, fugia pelo portão vazado sempre que podia - dava voltas pelos enormes quarteirões de meu antigo bairro - e eu e meus amigos corríamos em sua captura.

Já no Jaçanã, alguns anos mais tarde, do pequeno sobrado, passou a viver em companhia de sua grande amiga de gênero, a Pic, num enorme quintal gramado, onde certamente nos divertíamos jogando bola. E as fugas desta marginalzinha se tornaram mais elaboradas e perigosas. Esperava o momento certo para xeretar pelo bairro e num dia desses a coitada até foi atropelada, não se feriu, mas tomou o maior susto de sua vida.
E em dez anos aquela bolinha de pêlos se transformou numa princesinha linda, charmosa e manhosa. Queria colo como uma criança pequena. Bastava eu me sentar no chão que ela vinha se aconchegar em minhas pernas pedindo um cafuné ou um carinho em sua barriga. Olhava-nos nos olhos, como poucos seres-humanos fazem... Tinha caráter!

Queria poder acreditar em Deus, para dizer que ela está num lugar melhor, queria acreditar no céu, para que ela pudesse repousar e descansar de suas grandes aventuras, mas me basta saber que não está mais sofrendo.
Só descanse agora, minha linda.